Colunista Tereza Cruvinel destaca o acerto da presidente Dilma Rousseff na escolha de Edinho Silva como novo ministro da Secretaria de Comunicação Social; "O que a mídia destacou até agora na escolha de Edinho Silva foi o fato de ele ter sido tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado. Isso já passou e as contas foram aprovadas. Então, há zero de relação entre uma coisa e outra. Ele foi escolhido por um conjunto de atributos, não por isso", diz ela; um dos aspectos mais importantes é a boa relação mantida tanto com a presidente Dilma, como com o ex-presidente Lula; "Sua presença no governo também funcionará como uma espécie de ponte entre a era Dilma e o futuro do projeto petista, com uma candidatura de Lula em 2018. Ele tem a confiança dos dois", afirma; leia a íntegra
Comunicação nunca foi uma matéria de grande interesse para a presidente Dilma Rousseff. Enquanto ela navegava na alta popularidade, pôde prescindir de uma política de comunicação arrojada, que lhe tem feito muita falta agora, no tempo das vacas magras. A escolha de Edinho Silva para chefiar a SECOM, fugindo do script tradicional, tem tudo para ser um acerto.
O requisito fundamental de um bom ministro-chefe da SECOM não é ser jornalista, ter boas relações com os coleguinhas ou trânsito com os donos da mídia. Conhecer os aspectos específicos é importante, mas essencial é a capacidade para fazer a leitura correta dos fatos políticos, perceber para onde o vento sopra e desfrutar da confiança do titular da Presidência, inclusive para falar pelo governo sem ter podido consultá-lo. Como fazia Franklin Martins no segundo governo Lula, para não recuar muito. Ou Fernando Cesar Mesquita no governo Sarney, recuando um pouco mais. Não adianta ter ali um repetidor do que disse o (a) presidente.
A Secom também exige capacidade de gestão, pois não se limita à Secretaria de Imprensa, nela incluída agora a alimentação das redes sociais, e à atividade de porta-voz. A ela estão vinculados os setores de publicidade oficial (com verbas que alcançam os R$ 200 milhões), o departamento de pesquisas e a EBC – Empresa Brasil de Comunicação, responsável por serviços de comunicação governamental e por canais de comunicação pública. O projeto segue em construção e precisa ser fortalecido.
O que a mídia destacou até agora na escolha de Edinho Silva foi o fato de ele ter sido tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado. Isso já passou e as contas foram aprovadas. Então, há zero de relação entre uma coisa e outra. Ele foi escolhido por um conjunto de atributos, não por isso.
Afora ter familiaridade com o tema da comunicação e compreender os desafios que o governo tem nesta área, Edinho Silva é uma liderança interna importante no PT. É da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma de Lula, que foi excluída do núcleo palaciano com a saída de Gilberto Carvalho. Ele fortalece o vínculo entre Dilma e o partido, nesta hora em que ela só pode contar mesmo com o PT – vide o que tem feito o PMDB e o descompromisso da maioria dos partidos da base. Sua presença no governo também funcionará como uma espécie de ponte entre a era Dilma e o futuro do projeto petista, com uma candidatura de Lula em 2018. Ele tem a confiança dos dois.
O novo ministro obviamente terá um secretário de imprensa para cuidar das relações imediatas com os jornalistas e um secretário-executivo para tocar a burocracia da Secom. E com isso estará mais livre para agregar conteúdo político à comunicação do governo, que sob Dilma foi tímida e equivocada. Muito provavelmente, tal como Gushiken e Franklin, Edinho terá assento nas reuniões de coordenação política.
Muito foi dito também sobre pressões do PT para que veículos alinhados com o governo sejam melhor contemplados com verbas publicitárias, mas este não é o ponto central. Obviamente qualquer governo deve levar em conta, na distribuição das verbas, os indicadores de audiência, circulação e acesso dos veículos mas não pode submeter-se exclusivamente a eles. Quando faz isso, alegando estar praticando a “mídia técnica”, está apenas mantendo ou aprofundando as assemetrias existentes, ao invés de estimular o pluralismo, um nutriente da democracia.
Por fim, Dilma deixou de errar também a fazer rapidamente a escolha. Na Secom, uma interinidade prolongada, como outras que estão por aí, seria fatal para um governo que enfrenta adversidades de toda ordem o tempo todo.
BRASIL 247
Registe-se aqui com seu e-mail