Camila Conceição, de 18 anos, ganhou na categoria 'Artigo de Opinião'.
Etapa final do evento foi realizada no Distrito Federal.
Camila Conceição [à direita] ao lado de professora de português [no centro] e da diretora do Colégio Estadual Luiz Viana Filho, em Nazaré (Foto: Márcia Almeida / Arquivo Pessoal)
Moradora do Mucambo, zona rural do município de Nazaré, no recôncavo da Bahia, Camila Gomes Conceição, de 18 anos, está entre os 20 vencedores nacionais da "Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro". Foram cinco premiados em quatro categorias. Na seção "Artigo de Opinião", após concorrência inicial com mais de 38 mil alunos, a jovem obteve a medalha de ouro na quarta-feira (17), durante evento realizado em Brasília.
Camila se diz orgulhosa pelo prêmio e destaca a relevância da escola que frequentou. "Acabo de concluir o 3º ano [ensino médio]. Eu estudei no Colégio Estadual Luiz Viana Filho. Uma escola pública desvalorizada, no subúrbio da cidade. Um colégio público, que tem seus problemas, mas que sempre me trouxe coisas maravilhosas. Um local fundamental para a minha formação e que contribuiu muito para a pessoa que eu sou", diz orgulhosa.
A estudante mora a cerca de 14 quilômetros da sede do município de Nazaré, onde tinha aulas. Em casa, o pai estudou até a terceira série do ensino fundamental, enquanto a mãe só concluiu o ensino médio aos 29 anos. "Antes não existia transporte público. Hoje existe. Então, para mim foi mais fácil nesse sentido", explica a estudante que, desde criança, conta com o apoio da família para "ir longe".
Natural de Nazaré, a jovem conquistou a comissão de análise ao destacar no artigo a realidade dos produtores rurais, especialmente dos cultivadores de mandioca. "Como moradora da zona rural, eu conheço esse cotidiano. Meu pai trabalha até hoje na zona rural. São coisas que eu vivencio desde pequena e sei que a realidade da minha família é vivida por muitos produtores", ressaltoul.
O prêmio possibilitou as duas primeiras viagens de avião para Camila. Em 2013, ela fez a primeira viagem para fora do estado, mas foi de ônibus. "Fui para Brasília na semifinal e agora. Senti um pouco de medo na primeira, mas agora foi tranquilo. Dessa vez, a minha mãe pôde ir comigo. Ela tinha o sonho de viajar de avião. De uma forma que eu não esperava, eu pude realizar o sonho dela. Isso foi uma coisa que me deixou muito feliz, muito feliz", frisou emocionada.
Além da medalha, Camila ganhou outros prêmios. Na semifinal, ganhou um tablet. Na final, levou um notebook e uma impressora. Já o colégio que ela estudou até metade de dezembro ganhou 10 computadores, uma impressora e um projetor. Um presente final de agradecimento ao apoio dos professores e amigos.
Agora, a jovem de 18 anos aguarda o resultado do vestibular da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), onde concorre no curso de história. Ela também participou do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que tem resultado previsto para janeiro de 2015. "Não esperava [o prêmio]. Agradeço a Deus pela capacidade e sabedoria", finaliza.
Professora
Márcia Jesus de Almeida, de 36 anos, é professora de Língua Portuguesa e Redação do Colégio Estadual Luiz Viana Filho. Há 12 anos na instituição, ela também foi premiada, ao lado da aluna, pelo trabalho desenvolvido na unidade. "Nós vivemos dificuldades na escola pública. Isso todo mundo sabe. Começar um trabalho na sala de aula e chegar aonde chegamos é um estímulo para continuar a acreditar na escola pública. Esse resultado mostra que a escola pública ainda pode dar certo", defende.
Márcia Jesus de Almeida, de 36 anos, é professora de Língua Portuguesa e Redação do Colégio Estadual Luiz Viana Filho. Há 12 anos na instituição, ela também foi premiada, ao lado da aluna, pelo trabalho desenvolvido na unidade. "Nós vivemos dificuldades na escola pública. Isso todo mundo sabe. Começar um trabalho na sala de aula e chegar aonde chegamos é um estímulo para continuar a acreditar na escola pública. Esse resultado mostra que a escola pública ainda pode dar certo", defende.
Sobre o artigo de Camila, Márcia destacou que a premiação foi o reconhecimento de um trabalho de qualidade. "Nós confiávamos muito no texto dela. Claro que os textos que estavam ali eram bons. Todos mereciam estar ali, mas acredito que o diferencial é que Camila já era pesquisadora. O trabalho dela nasceu depois de muita pesquisa. Isso pesou na escolha", acredita.
Márcia detalha que a escola estadual participa da Olimpíada desde 2002. Em 2010, um aluno chegou a ser semifinalista na categoria "Crônica". Neste ano, além de Camila, que esteve entre os cinco vencedores da categoria "Artigo de Opoinião", um outro aluno do colégio também foi finalista da categoria "Crônica e foi premiado com a medalha de prata.
Olimpíada
Iniciativa do Minstério da Educação (MEC), a "Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro" desenvolve ações de formação de professores com o objetivo de contribuir para a melhoria do ensino da leitura e escrita nas escolas públicas brasileiras.
Iniciativa do Minstério da Educação (MEC), a "Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro" desenvolve ações de formação de professores com o objetivo de contribuir para a melhoria do ensino da leitura e escrita nas escolas públicas brasileiras.
A Olimpíada tem caráter bienal e, em anos pares, realiza um concurso de produção de textos que premia as melhores produções de alunos de escolas públicas de todo o país. Nesta 3ª edição, participaram professores e alunos do 5º ano do Ensino Fundamental (EF) ao 3º ano do Ensino Médio (EM), nas categorias: Poema no 5º e 6º anos do EF; Memórias no 7º e 8º anos do EF; Crônica no 9º ano do EF e 1º ano do EM; Artigo de opinião no 2º e 3º anos do EM. Fonte: G1.com
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