Jaqueline de Sousa é uma estudante do 9º ano do Ensino Fundamental, com grandes interesses na
literatura e nas Ciências Humanas. Com apenas 14 anos de idade, Jaqueline decidiu desenvolver um
projeto e apresentá-lo na Feira de Ideias promovida pelo Instituto Entrando em Cena. Em busca de
inspirações, pesquisou na internet sobre a violência contra a mulher no Brasil e se deparou com dados
alarmantes. Nesse momento não havia mais dúvidas: Jaqueline tinha certeza de que queria fazer a diferença.
Intitulado de “Só um tapinha?”, o projeto de Jaqueline teve como objetivo promover intervenções nas
escolas, apresentando videos, músicas, debates e seminários para conscientizar os alunos sobre a
questão da violência contra a mulher. Os resultados foram muito positivos, o que levou o projeto a
concorrer ao Prêmio Entrando em Cena no Mundo, vencendo na terceira colocação. Mas agora Jaqueline
vai ter bastante trabalho pela frente: ela vai passar por várias escolas que vão receber o seu projeto.
Quer saber mais? É só ler a entrevista feita com ela logo abaixo:
Como surgiu o seu interesse pelo tema da violência contra a mulher?
- Então, como eu sempre li muito, aconteceu que eu comecei a ver em portais de notícias dados e
estatísticas sobre a violência contra a mulher e isso só me fez ficar mais interessada. Na verdade, eu
carrego esse incômodo desde sempre, isso é algo muito frequente, então sempre ouvimos dizer “ah,
‘fulana’ apanhou, mas também mereceu”. Isso sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha… como assim “mereceu”? Acho que foi assim que tudo começou.
Qual é a ideia do seu projeto? Como é colocado em prática?
-A ideia “macro” do meu projeto é a redução do índice de violência contra a mulher. Ele vai funcionar com
os alunos das escolas de rede pública de Bragança Paulista, a cidade onde moro. O 1° módulo do projeto
será ainda em parceria com o Instituto Entrando em Cena, que foi o Instituto que despertou em mim a
vontade de mudar essa situação.
Ele vai funcionar com ações de impacto nos 4 primeiros dias da semana, tudo de forma muito artística –
como teatros, documentários, depoimentos de mulheres que já sofreram violência e apresentação de
dados -, para despertar o interesse dos alunos. Já no ultimo dia da semana, vamos promover um debate
reflexivo onde teremos contato tanto com as possíveis vítimas quanto com os possíveis agressores. A
ideia é que jovens passem as informações para outros jovens. Inicialmente, 8 escolas vão receber o
projeto e vamos trabalhar com todos os alunos de 14 à 17 anos dessas unidades.
Quais resultados você espera desse projeto?
- Eu espero a humanização desses jovens e que eles fiquem tão impactados quanto eu fiquei quando vi
tantos dados negativos. Espero que os jovens que vão fazer parte do projeto passem essas informações
adiante. Eu só quero que meu projeto mude a história de muitas mulheres e que desperte um lado mais
racional nos homens.
Você se considera uma jovem feminista?
- Na verdade, eu tive meu primeiro contato com o Feminismo quando comecei a desenvolver o projeto.
Acabei pesquisando sobre o assunto e achei a iniciativa maravilhosa. Eu me identifico de certa forma com
o feminismo e me considero uma jovem feminista. Muitas vezes, até me pego disparando “isso é
machismo” pros meus amigos em meus círculos mais próximos.
Que mensagem você deixaria para outras garotas da sua idade?
- Se algo incomoda vocês, mudem. Os jovens têm a força para mudar o mundo. A iniciativa tem que partir
de dentro de vocês – nunca, jamais abandonem seus sonhos!
Apesar do prêmio e da visibilidade que conquistou, há quem pense que Jaqueline é muito jovem para
desenvolver esse trabalho. Os pais dela, no entanto, discordam: “a atitude dela foi surpreendente, eu não
tinha conhecimento dessa vontade dela. Na verdade, eu não esperava tanto, mas com o desenvolvimento
do projeto e seu potencial, as portas foram se abrindo e ela acabou tendo um reconhecimento incrível”,
disse sua mãe.
A iniciativa de Jaqueline representa muito mais do que uma curiosidade pessoal e específica; ela é retrato
de uma nova geração, que pode utilizar sua disposição para abrir a mente e seu acesso a internet como
ferramentas de transformação social. E é nosso papel fazer com que esses novos protagonistas tenham
espaço para crescer e solidificar uma realidade mais justa.
Fonte: Questão de Gênero
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