A essa altura, outros amigos fotógrafos interviram para tentar acalmar os ânimos e também começaram a ser agredidos verbalmente pelas pessoas que se amontoavam ali.
Os policiais próximos do tumulto fizeram o que passaram o dia todo fazendo: Ficaram de paisagem.
Os gritos cessaram e segundo alguns que estavam ali e afirmaram categoricamente, eu era um petista. Engraçado pensar que eu nem sabia que o era, até porque eu justifiquei meu voto nas últimas eleições (mas votaria na Dilma se tivesse votado).
Hoje senti na pele a tal da polarização que tanto se fala. Ou você é uma coisa ou você é outra e ponto final. Alguns amigos disseram que eu havia vacilado em entrar na pilha do velho (velho no sentido de retrógrado e anacrônico e também da idade), mas chega uma hora que não dá para ouvir tanta besteira e se calar.
Sempre pensei que o trabalho de um fotojornalista é o de mostrar a realidade e provocar mudanças, mas além de disso acho que o principal é não perder a capacidade de se indignar com as injustiças.
Posso ter errado do ponto de vista jornalístico, profissional, porém não me arrependo e faria tudo de novo se fosse necessário.
O Brasil está ferrado como está? Sim, sem dúvida alguma, mas se essas pessoas são a única solução, então infelizmente o país tem um triste futuro pela frente.
E quando eu estava indo embora, cutucaram meu ombro. Uma moça que estava ali e que eu nunca tinha visto. Ela estava ali para encontrar com o namorado e não me conhecia, mas quando me virei para ela, me deu um sorriso e disse:
— Parabéns pela coragem em enfrentar eles pelo que é certo.
Errei? Talvez tenha errado, mas quer saber? Foda-se, não tem preço a consciência tranquila por ter feito o que é certo.
Ou pelo menos o que acredito ser.
Eu fotografando de cima de um trio-elétrico. Foto: Fernando DK